O
LUGAR DO PENSAMENTO E DOS FAZERES DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR.
Por Denise Tinoco
Pedagoga e Professora
Universitária
O ensino pós-modernidade vive
grandes revoluções. Os caminhos das ciências também foram modificados e novas
formas de lidar com as teorizações apareceram. São novas linguagens e
possibilidades que nos obrigam a repensar teorias e práticas pedagógicas da educação
infantil ao ensino superior. E se por um lado percebemos a que novas técnicas e
tecnologias assumem um papel de destaque por outro, percebe-se uma crise que se
traduz na ruptura do modo de agir no cotidiano de muitas pessoas e ainda na
necessidade de respeitar a diversidade, as diferenças, nas heterogeneidades e
as desigualdades de oportunidades.
A história se repete todo início
de semestre. Professores ávidos por ensinar, porém apegados a práticas e
conceitos antigos chocam-se com as novas teorias de ensino, os interesses dos
estudantes e, por vezes, chocam-se com a Missão e novos objetivos das
universidades e do Curso que atua. Muitas diretrizes foram modificadas pelo
Ministério da Educação, novas habilidades são exigidas pelo Mercado de Trabalho
e provocam, a todo instante, uma prática docente renovada, também no Ensino
Superior. Não se trata, apenas, da inserção das novas tecnologias no seu
cotidiano, mas uma mudança de postura no cotidiano acadêmico. Na concepção de
Brito (2006), a formação do professor necessita fundamentar-se na percepção de
um professor que repense, fixamente, sua prática docente. Desta maneira,
estabelece um processo ativo que possa romper a dicotomia teoria-prática
articulando o processo educativo com o fato social.
Neste contexto, compreender os
processos educacionais seja dos sistemas de ensino seja nas escolas ou nas
salas de aula constituem desafios constantes para qualquer estudioso da
educação. No que tange a educação escolar nas salas de aula trata-se de
perceber que todos os acontecimentos atuais afetaram sua dinâmica de inúmeras
formas. Bastam olhares e ouvidos atentos e ouvidos nas diferentes Salas dos Professores
e participaremos das angústias dos colegas denunciados em sua forma de
expressão corporal e fala. Destaca-se: “os alunos não são mais os mesmos”,
“vivem ligados em seus celulares”, “Não prestam atenção às explicações”, “eles
são muito novos para aprender isso”... De certo, quem frequenta este espaço já
se deparou com tais questões que conferem com a realidade. Poderia aqui
enumerar uma série de problemas ligados à falta de atenção dos nossos alunos,
mas o objetivo desta breve reflexão é outro. Trata-se de discutir o lugar do
pensar e do fazer docente na universidade.
Observa-se no cotidiano escolar que
muitos professores repetem práticas ao longo dos anos e se esquecem de rever
suas estratégias de ensino. Dão pouca importância à didática e a prática
reflexiva. Soma-se a isso, a entrada nesse mercado, de profissionais
despreparados que pouco conhecem sobre os diferentes modos de ensinar e
aprender. São altamente competentes no saber específico de suas disciplinas ou
profissionais de excelência em sua área, mas que não possuem formação
pedagógica e também, nem sempre, percebem sua importância no meio acadêmico. É
mister que estes profissionais voltem a estudar e busquem uma formação
pedagógica de qualidade.
Segundo Almeida (2012) a docência
universitária precisa ser vista de forma abrangente e ser percebida como uma
prática complexa que exige leituras culturais, políticas e pedagógicas respeitando
os contextos vividos, os sujeitos envolvidos e os objetivos do ensino. Para
Pimenta e Anastasiou (2002), é
preciso considerar que a atividade profissional de todo docente possui uma
natureza pedagógica, isto é, vincula-se a objetivos educativos de formação
humana e a processos metodológicos e organizacionais de construção e
apropriação de saberes e modos de atuação.
É preciso considerar ainda que
para trabalhar na docência superior, nestes novos tempos, não basta saber sobre
o conteúdo. Trata-se de buscar envolver os alunos no mundo da pesquisa, da
descoberta, da atividade de campo, das partilhas e disseminação dos saberes com
a comunidade educativa. Zabala (2004) afirma que conteúdos são diferentes e
precisam ser ensinados de forma diferentes. Assim, conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais estabelecem diferentes possibilidades de
interações com os estudantes. Une-se a isso a necessidade ensinar como estudar,
como aprender, como questionar, como lidar com o outro e com os limites e
possibilidades de cada um.
De certo, restará, ainda,
reformulação de alguns cursos, a reestruturação dos Currículos, rompendo com
uma excessiva especialização e buscando assegurar uma formação de base,
científica e cultural, em grandes áreas do conhecimento (e, nalguns casos, em
novas áreas interdisciplinares). Modificações estruturais nos espaços
universitários, elaboração e disseminação do Projeto Pedagógico do curso,
dentre outras questões.
Não se busca aqui inferir total
responsabilidade pela aprendizagem ao professor. Vale destacar que é preciso
que se tenha na universidade um projeto pedagógico-curricular com um plano de
trabalho bem definido e de preferência com a participação dos docentes das
disciplinas, é relevante que os professores façam planos de aula, que consigam
cativar os estudantes, onde utilizem metodologia adequada à matéria, que façam
avaliações contínuas sobre sua atuação e aprendizagem dos seus alunos. De certo,
muitas questões podem ser resolvidas no âmbito escolar com uma atuação de um
grupo forte com interesses comuns e dispostos a aprender e ensinar de forma
diferenciada.
Sobre o diálogo de formação e o
processo de ensino e aprendizagem Freire (1999) diz que a alegria faz parte do
processo de formação e de aprendizagem e que para formar-se é preciso
(re)formar-se. Os profissionais da educação precisam, além de buscar os
conhecimentos e saberes, lutar para buscar seu autoconhecimento, autoestima e
segurança diante da profissão escolhida, descobrindo a posição política no
desenvolvimento de sua sociabilidade.
De forma prática, ensinar na
universidade requer do professor o desejo de (re)aprender. Buscar novas
práticas, novas ações que o remetam a novas reflexões e, por conseguinte outras
ações. Num processo dialético de busca, procura e aprendizagens.
Finalizando, cabe a ideia do
inacabado, do imperfeito e da procura atenta e sincera. Para além dos limites
que nos impedem, existe a possibilidade de mudança impulsionada pelo desejo,
pela vontade e acima de tudo, pela necessidade de fazer diferente neste
universo de constantes transformações. Mudar é possível e fortalece a esperança
de uma educação de qualidade, de alma, de conhecimento e diferentes ações.
MAIS DE 20 DICAS PARA DEIXAR
SUAS AULAS MAIS INTERESSANTES E CRIATIVAS NA UNIVERSIDADE:
·
Jogos de leitura, onde trechos do texto base
serão lidos e analisados pela turma.
·
Estudo de casos onde uma teoria possa ser examinada
e criticada.
·
Círculo de leituras e debates utilizando
livros da biblioteca da universidade.
·
Criação de blog para interação com
experimentos, exercícios de fixação, retiradas de dúvidas.
·
Grupos de estudo, fóruns e troca de
informações em redes sociais para interação com os alunos.
·
Feiras pedagógicas para partilha de saberes,
no âmbito das práticas.
·
Júri Simulado.
·
Quiz
sobre o assunto ou unidade trabalhada.
·
Utilização de entrevistas com profissionais
da área.
·
Visitas Técnicas.
·
Diário de experimentos.
·
Diários de campo.
·
Elaboração de paródias com conceitos
trabalhados.
·
Criação de maquetes, modelagens, modelos
mecânicos e cenários onde os estudantes possam testar e explorar as teorias.
·
Elaboração de mapas conceituais.
·
Trabalhos em grupo com propostas diferentes e
complementares.
·
Uso de aplicativos (baixados com antecedência
pelos alunos) para consulta em dicionário virtual, mapas, museus, dentre
outros.
·
Apresentações teatrais que simbolizem
exercícios de tarefas da profissão.
·
Utilização de linhas do tempo.
·
Utilização de trechos de longas, curtas,
músicas, poemas para aproximação do conceito com outras linguagens.
·
Criação de jornais, revistas em quadrinhos,
charges sobre um tema.
·
Envolvimento dos alunos em campanhas sociais.
·
Criação de projetos de ação social.
·
Uso dos laboratórios específicos da
disciplina, de forma sistemática.
·
Criação de vídeos com aplicação de conceitos
ou experimentos.
·
Organização de Feiras de experimentos abertos
para a Comunidade Educativa.
·
Utilizar dinâmicas de Leitura com pequenos a
Artigos e Textos, possibilitando a interação do aluno com diferentes conceitos
já trabalhados, valorizando o conceito de aula invertida.
·
Uso dos Laboratórios de Prática do Curso.
NOTA: Denise Tinoco é pedagoga,
professora com trinta e dois anos de experiência na educação básica. Há quatorze
anos atua em diferentes universidades nos Cursos de Licenciaturas presenciais e
a Distância. Desde 2007 transita entre os Professores Destaques dos cursos e
Instituições que leciona.
Referências:
ALMEIDA, Isabel M. Formação
do professor do Ensino Superior desafios e políticas institucionais. 1. ed. São
Paulo: Cortez, 2012.
BRITO, A. E. Formar
professores: rediscutindo o trabalho e os saberes docentes. In: MENDES
SOBRINHO, J. A. de C; CARVALHO, M. A. (Orgs.). Formação de professores e
práticas docentes: olhares contemporâneos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 16. ed. Editora Paz e
Terra: São Paulo, 1996.
LIBANEO, José Carlos.
Didática. Editora Cortez: São Paulo, 2008.
PIMENTA, Selma Garrido;
Anastasiou, Lea das Graças C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez,
2002.
SANTOS, J. F. dos. O Que é
pós-modernismo. 5. reimpr. São Paulo: Brasiliense, 1991.
ZABALZA, M.A. O ensino universitário: seu cenário e seus
protagonistas. Porto Alegre:
Artmed, 2004.