Denise Tinoco*
*Denise Tinoco. Pedagoga. Professora de Educação Básica.
Professora da Universidade Estácio de Sá. Especialista em Educação Infantil e
em Psicopedagogia. Contato pelo e-mail:
denise.tinoco@bol.com.br
Recentemente
tive acesso, em diferentes mídias de comunicação, a uma notícia sobre a
trajetória da vida acadêmica de um Índio no Brasil. A notícia informava
que a Universidade Federal de Santa
Catarina formou em 2015, sua primeira turma composta só por índios(85), que se
graduaram em Literatura Indígena do Sul da Mata Atlântica. O juramento repleto
de emoção foi proferido por um dos alunos, que falou sobre luta pela terra,
autonomia, autodeterminação , alegria e
crianças sadias. Só é leitura da reportagem causa emoção e transbordou no meu
coração de alegria. Empatia fácil de explicar, pois moro em uma cidade, Campos
dos Goytacazes-RJ, que outrora foi terra da Nação dos Índios Goitacá. "Terra
de índio", sim! Há muito a Nação Goitacá esteve presente nestas terras,
que no passado, fora repleta de grandes jacarés, rios e Pântanos. Hoje,
dizimados, deixaram em nosso sangue heranças que estão nos traços físicos de
alguns, na forma de viver de outros e na vontade de fazer valer, com força e determinação de todos!
Segundo historiadores, os índios da
Nação Goitacá raspavam a cabeça para terem mais agilidade na água, eles eram
ótimos nadadores, caçadores e corredores. Fisicamente possuíam pele mais clara,
eram mais altos e robustos que os outros índios. Eles tinham hábito de dançar
em ocasiões festivas, usando o jenipapo para pintura do corpo. Alimentavam-se
de frutas, raízes, mel e principalmente, caça e pesca. Os Goitacás tinham o
hábito de trocar coisas com os portugueses, recebiam quinquilharias, ou seja,
coisas sem valor e davam suas riquezas, como exemplo a madeira da árvore do Pau
Brasil. Eles também eram supersticiosos com a água, não bebendo de rios e
lagoas, mas sim de cacimbas. Os portugueses brigaram com os índios pelas terras
e com isso, eles foram dizimados, nesta região. Existe a ideia de que só
tivemos por aqui, em Campos dos Goytacazes, uma tribo de única etnia, o que não
é verdade. Tivemos nesta região que compreende o norte do Estado do Rio e uma
pequena parte do Sul do Estado do Espírito Santo, a grande Nação Goitacá
repleta de diversidade cultural. Conto tal história, pois, muitas vezes,
estamos vivendo em cidades, totalmente urbanas, mas repletas de traços
indígenas, seja no seu nome, nas palavras, de sentido linguístico regional, nos
saberes e usos de ervas medicinais, ou, nas comidas e gostos populares, que
atravessam gerações, sem que possam ser conhecidas e reconhecidas nas escolas,
como cultura indígena.
Baseando-me em diversas teorias
regionais e nacionais, penso que estes e outros paradoxos precisam ser
trabalhados na escola, desde a educação infantil. Conhecemos o quanto as
histórias indígenas fomentam conversas, atividades e projetos pedagógicos nas
escolas, na semana que antecede o dia 19 de abril, ou apenas no dia reservado,
historicamente, para esta questão. Muitos professores já trabalham a história
antiga com os pequeninos, contam sobre seus hábitos, falam sobre a floresta e
vestimentas.
É sabido que a data, 19 de abril, foi
escolhida buscando lembrar e fortalecer a data histórica de 1940, quando se deu
o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O evento quase fracassou nos
dias de abertura, mas teve sucesso no dia 19, assim que as lideranças indígenas
deixaram a desconfiança e o medo de lado e apareceram, com seus pares, para
discutir seus direitos, em um encontro emocionante.
Na atualidade, existe uma
infinidade de particularidades que ainda podem e devem ser trabalhados sobre a
vida indígena, na atualidade. Necessário buscar imagens reais, que mostrem
situações de pessoas que povoam vários espaços brasileiros, por vezes, sem
trabalho, lutando contra a falta de oportunidades, doenças trazidas pelo
desmatamento de sua mata e entradas clandestinas em suas terras e, diversas
outras formas de desrespeito estão no
topo da lista das desigualdades brasileiras, assombrando as nações indígenas
que habitam nossa terra.
É preciso alertar, ainda, que no dia
19 de abril é comum vermos crianças fantasiadas de índios por vezes, com
alusões estereotipadas, às tribos da América do Norte. Também encontramos durex
coloridos imitando pinturas indígenas, dentre outras aberrações pedagógicas,
que costumam povoar a escola de educação infantil, nesta época. Vale lembrar
que a Lei 11.645/2008 inclui a cultura indígena no currículo escolar
brasileiro. Desta forma, permite que professores organizem estratégias,
atividades e projetos significativos para os pequenos e para a cultura escolar,
durante o ano todo.
Enfim, que o dia 19 de abril de 2016,
seja mais um dia dedicado a e memória, a conscientização e disseminação das
culturas indígenas. No entanto, que todos os dias, deste e dos anos, que virão,
possam ser de índio. Fica o apelo por dias melhores, repletos de cantoria,
festa, caça, estudo, pesquisa, prevenção da natureza e dos de povos, que
desejam que todos os dias sejam de índio!
SUGESTÕES
DE ATIVIDADES PARA ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS SOBRE AS DIFERENTES CULTURAS
INDÍGENAS:
1. TEM
FILME NA ESCOLA:
Utilização
de Documentários, disponíveis em diferentes sites como: http://pibmirim.socioambiental.org/,
que falam sobre o cotidiano de crianças indígenas das diferentes tribos
brasileiras como: “Os saberes das crianças Yahomami”, “Tem índio no Futebol”,
“Manual de Crianças Huni Kui”, dentre outros. Estes b documentários poderão
aproximar as crianças nos seus, nem sempre, diferentes fazeres.
Daí
é possível realizar outras atividades como:
·
Pesquisas de imagens,
·
Organização de painéis;
·
Conversas na Rodinha;
·
Livrinhos artesanais, que contem a história
preferida das crianças.
·
Vivências com danças, brincadeiras, comidas.
FAIXA ETÁRIA: 02 a 05 anos.
2. OLIMPÍADAS
DE ÍNDIO:
Que
tal, no ano das Olimpíadas no Brasil, pesquisar, estudar a cultura de alguns
povos indígenas e suas tradições com os jogos e realizar como culminância uma
grande Olimpíada com as crianças brincando
e jogando algumas atividades da Olimpíadas dos índios, tendo como base
os “I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas”, ocorrida no Brasil em 2015?
As crianças poderão brincar
de:
* Cabo
de força(cabo de guerra);
*
Corrida de velocidade;
*
Arremessos de objetos em marcas estabelecidas, de acordo com da idade e
possibilidade das crianças;
*
Futebol de campo;
*
Travessia na água( natação em piscinas);
*Corrida
de saco.
3. PINTANDO
ARTEFATOS COMO OS ÍNDIOS.
Após
conhecer um pouco do trabalho de diferentes tribos com a argila e de posse de
alguns objetos confeccionados com argila ( vasos, bandejas, suplá para mesas ou
paredes solicitar que as crianças façam pinturas coloridas, partindo de
referências indígenas.
FAIXA
ETÁRIA: 02 a 05 anos.
4. PINTURAS
CORPORAIS:
Após
ouvir histórias ou cantos indígenas cobrir partes do corpo com tintas
especiais, feitas de urucum, carvão, farinha de mandioca e sair pela escola
como uma tribo, bem especial.
OSB:
Verificar, antes da atividade, crianças alérgicas aos materiais escolhidos para
a pintura corporal. Após a brincadeira, organizar um gostoso banho de mangueira
em espaço livre, na escola.
FAIXA
ETÁRIA: 01 a 05 anos.
5. PAJELANÇA
NA ESCOLA
Tento
como base canções de diferentes nações indígenas, pequenos rituais e preparo de
comidas como bijú, peixe e raízes, preparar e vivenciar com todos os pequenos
uma grande pajelança.
As
crianças, de diferentes idades poderão:
·
Reproduzir um animado ritual da chuva;
·
Ressignificar uma dança indígena com as
crianças.
·
Organizar uma mesa com comidas típicas, que
serão apreciados por todos.
·
Entoar palavras indígenas que tenham
significado para aquele grupo escolar.
·
Pintar partes do corpo;
·
Elaborar painéis com desenhos de índio,
usando como referência o corpo de um dos coleguinhas, sobre um papel pardo.
·
Ouvir canções e cantigas dos povos indígenas.
·
Ouvir histórias de livros infantis sobre os
índios.
FAIXA
ETÁRIA: 06 MESES a 05 anos.